quinta-feira, 31 de julho de 2014

Vício

Intrínseca vontade esta de abrir o cadeado e libertar estes pensamentos oriundos de momentos em que o único desejo é desanuviar. É um querer equiparado a um vício, mas, sendo que associo os vícios a algo negativo, realço essa grande diferença de pólos. É uma necessidade de escrever, provocada pela falta de falar. Pela falta de contacto visual, aquando da saída das palavras da minha boca, que capta a tua mais sincera resposta através dos teus reflexos e tiques. Movimentos que não se vêm, observam-se.
Reagir a esta vontade não é fácil. Envolve muitas variáveis, muitas peças no tabuleiro deste jogo. Não obstante, acabo por ceder e mostrar o que vai lá dentro. Íntimas informações, largadas para o mundo sem saber onde chegarão. Solto-me e destranco a fechadura. O difícil vem depois, quando atinjo a sobriedade e lucidez. Quando me bate a totalidade de reflexão que deixei escapar desta vez.
É uma necessidade de falar para ti. Uma que me corrói por dentro se não lhe obedecer, mas que com a minha condescendência permito que me eleve a expectativas ficcionais. Sonhos de avareza e luxo a um nível romântico que, contados, ninguém acreditaria. Faceta que já há muito está em coma, esquecida e abandonada. Por minha culpa e por falta de receptor compatível ou disponível a ganhar um lugar nestas utopias. Sempre relembradas quando ascendo até aquele lugar, lá bem no alto, em que a segurança parece infalível e tudo se torna possível.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Livre

Não te metas por aí, já sabes que é um beco sem saída. Já passaste por essa cortada várias vezes e sempre que viras-te para lá foste embater na parede. Já devias perceber por este andar que não vais conseguir manda-la a baixo, por mais que tentes. Continua no teu caminho, com as habituais paragens pelo meio, e ignora aquela cortada. Acelera quando passares por lá, é melhor. Antes que caias na tentação de ligar o pisca sequer.
Já devias ter aprendido que isso contigo não funciona. Não és normal e, como tal, não ages como os restantes mortais. Não te está no sangue, na cabeça ou no coração essa hipotética paragem que está ali ao virar da esquina. Isso iria impor estares quieto e a monotonia sempre foi o teu arqui-inimigo. Levas à letra o ditado "parar é morrer". Vais morrer um dia e vais, por isso o melhor é mesmo aproveitar. Queres liberdade para fazer o que te dá na real gana, sem preocupações, ressentimentos ou remorsos à posteriori.
Não queres que nada te segure, amarre ou se junte sequer. Isso implicaria teres de te retrair. Não seres quem tu és. Isso para ti é contraproducente e antinatural. O som das correntes faz-te comichão. A imagem de uma jaula faz-te impressão. O simples conjugar do verbo prender faz-te arrepiar a espinha. Nada te vai agarrar, porque não vais deixar. Porque não vais dar espaço para isso. Porque até o mais bonito laço te sufoca.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Palavras Etilizadas

Continuamente à espera desse momento em que quebras as tuas barreiras e decides iniciar o contacto, o dialogo, a conversa. Já resistes à tentação há demasiado tempo e não aguentas mais essa falta de comunicação. Necessidade levada quase ao extremo fervor do quente interior que sentes cada vez que paras, sozinho, sem música. Nesse momento nada mais tens a fazer senão que pensar. Escusado é dizer no que te vem primeiro à cabeça. É mais que instintivo, é intuitivo e icástico e não há corrente que prenda essa vontade intrínseca de algo tão banal como ler uma mensagem. Lendo-a, obviamente, no teu pensamento com a voz que não é tua, mas que não consegues de modo algum esquecer. Repetes no teu profundo cerne essa doce melodia que já tantas vezes ouviste e que não é capaz de te enfastiar. Pelo contrário, anseias pelo momento seguinte em que tal voz não irá provir do teu pensamento, mas sim da sua origem natural. Calmamente, como habitual, ouves cada palavra e libertas todos os teus instintos de salva-guarda que quotidianamente usas para te proteger dos demais. Cessas o controlo que impões à tua respiração e deixas o sangue fluir pelo corpo, sem domínio algum. Sensação de uma total despreocupação, como se nada te pudesse tocar, muitos menos magoar.
Tudo isto através de algo tão singelo como uma mensagem, uma palavra, um olhar. Tão simples e puro que não necessita de explicação ou contestação. Fechas os olhos, aceitas e esqueces que as portas que estás a abrir já um dia foram arrombadas, pisadas e queimadas. Acolhes essa sensação e relembras-te de que o passado, ainda que recordado, está lá atrás. O futuro vais tu escreve-lo. Cada livro, capítulo, parágrafo, frase, palavra, letra e sinal de pontuação. Não te esqueças de pontoar! Afinal de contas, é através desses sinais que te vais aperceber do quão feliz foste quando recontares estas histórias aos teus filhos.

domingo, 20 de julho de 2014

Avaliação

"Alcoolizado? A estas horas? Eu? Credo. Nunca!", é o princípio. A negação. Não aceitar os nossos problemas e crer que é apenas algo rotineiro em vez um vício. E que bom que é ter essa cegueira que nos impede de ver o que realmente se passa à nossa frente. Eufemismo para uma qualquer espécie de espelho que possa reflectir e elucidar a nossa própria realidade. Verdades cujo esforço nos é tão exigido, de forma a esconder ao consciente e não permitir que se torne na sua forma completa e existente.
Daí advêm algo que me importuna diariamente e que não posso mais esconder.
Eu vejo. Tu vês. Ele vê também.
Eu observo. Tu ignoras. Ele desvia o olhar.
A grande distinção que proporciono à diferença entre ver e observar é totalmente merecida. Advêm de muitos anos de experiência. Muito tempo a observar quando queria apenas ver e desfrutar. Coisa que se tornou impossível a partir do momento em que o observar se tornou maioritário e governou sem oposição.
Pode parecer banal e inocente, mas ter noção de todos os pormenores à nossa volta é apenas bom até certo nível. Pode até ser engraçado saber precisamente quantos copos aquele bebeu, quantos cigarros ela fumou, quantas vezes o outro disse aquela palavra, quantas vezes ela pegou no telemóvel. Até pode ter piada, para os outros. Para quem é observado e não se incomoda ou percebe sequer. Para quem observa, o estado de espírito pode ir de entediante, ao ponto de querer dormir, até ao ponto em que a cabeça ferve e surge uma vontade exequível de fazer um corte de cabelo à tesourada pelo pescoço. E entre isso e acabar no fundo da garrafa, não sei o que será melhor; se bem que a mais doce garrafa fica cara!
Pormenores, sempre atento a esses pequeninos.
Torna-se mesmo inevitável olhar ou ver e não observar. A única solução encontrada, até agora, é mesmo aquela que tem servido para tudo desde o início dos tempos: ficar entorpecido! Estado esse que tanto adoro como abomino. Adoro porque me faz sentir bem, abomino porque me faz esquecer e passar ao lado de momentos merecidos de recordar futuramente.
Não encontrando solução benéfica, continuo com o entorpecimento diário que me possibilita levantar à tarde e adormecer de madrugada. Acto esse que me levará um dia, talvez mais cedo que suposto, mas todos temos que ir e temos. Ao menos vou adormecido e com um sorriso esboçado.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Inércia

É toda uma impotência perante essa tua imponência.
Sensação desesperante essa de não ter voto na matéria, de não ter qualquer influência no resultado, de não puder ter as coisas da maneira desejada. Nada fácil mesmo, especialmente quando vês bem à tua frente o desenrolar do tempo e observas que não é para esse lado que querias que o vento soprasse. Como se desse para controlar o vento.
Que se pode fazer? Nada. Que se deve fazer? Nada mesmo! Qualquer acto, por mais inofensivo que seja, é interpretado como uma tentativa de controlo e, salvo rara excepção, levado com desagrado. Deduz-se assim, muito drasticamente, que a melhor conjuntura existente será a inércia, mas tal não é exequível quando cada teu olhar nos meus olhos se transforma num intrínseco arrepio na espinha.
Depreendo, inconvicto, que a melhor medida a adoptar é nenhuma. Decido que não vou decidir e fico-me por aí. Não por medo da alteração do ambiente circundante; mais que familiarizado com mudanças. Sim, por medo do incógnito que pode advir da mais ínfima oscilação que, intencionalmente ou não, pode fazer virar o barco e, consequentemente, deitar qualquer réstia que perdure para o fundo do mar. Cemitério de esperanças que um dia imaginaram poder ver a luz do dia, mas que foram decapitadas assim que tentaram vir à tona da água respirar.
Não vou eufemizar, mas sim enfatizar o quão impotente me sinto perante a tua maneira de ser, imponente. Sempre com ar majestoso e grandioso, como se fosse impossível invadir o teu ser e fazer-te sofrer. Nada nem ninguém tem a capacidade de te deitar a baixo ou de impedir que leves a tua avante. Os teus caprichos têm de ser satisfeitos e não olhas a meios para isso, mesmo que pises quem se puser no caminho. E no fim, não obstante ao que deixas ver por fora, no teu seio continuas num ciclo contínuo de amargura ao qual não vês o fim. Ao mesmo tempo que tentas, sofregamente, sair desse turbilhão de memórias que ora te fazem rir, ora te fazem chorar. 

domingo, 13 de julho de 2014

Luta

O mais leve toque da tua pele na minha invoca sensações deslumbrantes a um nível psicológico e hormonal que me bloqueiam o pensamento e me deixam estático. Estagnado e sem reacção. Logo eu que odeio ficar sem saber o que dizer ou fazer. Momentos em que reaprendo a abrir a boca e respirar, por me faltar o ar. Ar esse que transporta um suave sabor oriundo dos teus lábios devido à tua própria respiração. Tão desejado e querido sabor, apenas ultrapassado pelo facto de ser apenas imaginado.
Desde sempre ensinado de que não podemos ter tudo o que queremos. Aceito e compreendo. Tento ainda mais acreditar no karma, embora seja algo muito complicado. Tantos com tanta coisa e alguns, que pouco pedem, nem isso conseguem obter.
Posso não merecer, não ter direito, nem possibilidades de obter esse tão precioso bem que és tu. Não deixo à mesma de lutar por uma mínima hipótese de entrar no teu raio de visão e ficar lá por uns segundos. Já me queimei antes por motivos iguais, mas a dor das feridas não me faz recuar. Pelo contrário, faz-me querer ainda mais esse tão cativante sorriso quotidianamente, numa tentativa de esquecer essas mesmas queimaduras e por fim tentar sentir algum conforto.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Silêncio

Angustiante é dizer pouco. A falta de manobra que me impões, não só me acorrenta como me rouba o ar. Fazes-me questionar cada passo que dou antes de sequer pensar em me levantar. Impedes qualquer movimento instintivo que possa ter e obrigas-me a ponderar cada palavra antes de a pronunciar. Querendo ou não, controlas-me por completo e desnorteias-me, coisa que tu sabes me destrói por dentro.
Preocupante não descreve metade. Sabes bem da minha fragilidade interior e do quão bem a tento proteger bem guardada do exterior amargo e traiçoeiro. Ris-te para mim, ou de mim, não sei bem porquê. Sei sim que me deixas a estremecer, desequilibrado e desprovido de qualquer meio que me permita alcançar alguém próximo. Ocupas-me na íntegra e não pareces ter intenções de partir.
Constringente chega lá perto. A força que me obrigas a usar para respirar sem hiperventilar, nega qualquer mísera e remanescente vivacidade que possa persistir em mim. O custo que me é coagido reivindica juros à noite e submete o antes sagrado período de descanso, à continuação do flagelo que durante o dia se tem tornado singelo. Vais-me assolando aos poucos por dentro, e receio em saber se tens consciência disso.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Inconseguimento

Ninguém estalou os dedos, mas foi como se tivesse estado a ouvir esse som a perpetuar durante vários minutos, durante os quais as palpitações se fizeram sentir por todo o corpo, como um sismo com réplicas e tsunami de suor. Todo um tremer constante, dessincronizado e incontrolável num estalar de dedos.
Todas as asneiras existentes no mundo não seriam suficientes para exprimir a mágoa que senti naquele momento. Dor que não se mostra, mas que se fez sentir na raiz da planta que cuidadosamente fui regando diariamente. Nem o vaso aguentou a força da pancada que, apesar de esperar, não me apercebi de onde veio. Rachou de alto abaixo e fez escoar toda a água que dava vida a essa pequena flor, delicada e indefesa.
Sinto a irritação, apenas não sei a que se deve. Se ao facto de ter permitido que os meus mais férteis pensamentos sonhassem demasiado alto e agora sentir a dor da queda. Se por ter permitido chegar tão alto, conhecendo perfeitamente a dor de cair por experiência passada. Ou se por saber que por muita vontade que tenha de te dar a conhecer que me dói, recusar-me-ei a fazê-lo. Já caminhei vezes suficientes na lama para saber que não vale a pena anuncia-lo. Só estaria a arrastar alguém comigo, que nada fez para se sujar.
É rastejar para fora desse buraco e limpar o máximo possível.
Virar-lhe as costas, ignorá-lo e fazer de conta que nada aconteceu.
Recomeçar do início, outra vez, novamente e de novo. Múltiplas vezes.
Esperar, desejar, rezar para que da próxima seja diferente e corra melhor.